Damos testemunho de que são os indígenas guardiães das folhas, do verde, das águas, da mãe terra, dos ecossistemas. Por Denis Wilson Silva[1]
No chão sagrado, altar de ancestralidade. Símbolos que nos alcançam por dentro fazem vibrar e bater nossos corações – em Palavra, força e magia. Terra, território. Mãos calejadas. Punho erguido para a luta. Mãos abertas, unidas, entrelaçadas. Pés de terra, sem-terra, cravados e expulsos da terra. Toré dos Povos Originários, corpo móvel que dança unidos ritualmente. Brincadeira ao ritmo do toante. Para os povos primeiros da Abya Yala, a vida acontece por baixo: onde é gerada, germinada, desabrochada, florescida, frutificada… sustento.
Para seguir aprendendo com os de baixo é o que CEBI-MG (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos – www.cebimg.org.br ) – em irmandade com a Rede de Apoio, em uma Bendita Mescla, sob a licença dos mais velhos e encantados – marchou até a Retomada Indígena Arapowã Kakya dos Povos Xukuru-Kariri, em Brumadinho, MG, dia 29 de maior último (2022). Como nossos pais e mães, pisamos em Terra Santa. Ali, na poeira levantada, está a alternativa, a cura, a vacina para todos os males do capitalismo extrativista, da mineração predatória, do latifúndio que impõe o cativeiro da terra: damos testemunho de que são os indígenas guardiães das folhas, do verde, das águas, da mãe terra, dos ecossistemas.
Garantir os Direitos dos Povos Indígenas é o mesmo que proteger a Natureza. No território da Retomada já existem plantações com sistema agroflorestal e hortas comunitárias que produzem alimentos saudáveis. É justa e legítima a luta dos que sabem por valentia e coragem multisseculares. O território hoje retomado (porque a ocupação é originária) está na mira da assassina e criminosa mineradora Vale S/A que, reincidentemente, pilha, estrangula, violenta, saqueia, assedia, agride, massacra, ameaça, diminui a Vida dos parentes e de todos nós.
Nas firmes e potentes falas das companheiras e companheiros da Rede de Apoio à Retomada Indígena Xukuru-Kariri, a consciência do grave momento de ofensiva: é guerra declarada/deliberada contra nós, as maiorias oprimidas e marginalizadas. Os desgovernos fascio-liberais de Bolsonaro e Romeu Zema são anti-povo e coniventes/subservientes aos interesses escusos dos que, em nome do lucro, perseguem, criminalizam as lideranças, eliminam rios, matas, peixes, gentes. Causa preocupação também o papel de um Judiciário vendido e calhorda que, em fins de junho, deverá pautar e votar o Marco Temporal, nome elegante para continuar o genocídio indígena. “Marco Temporal, NÃO!”, gritamos e exigimos, pois isto é o justo e necessário.
Em nossa “Voz de Povo” unido – cantada, en-cantada, rezada, manifestada – nosso grito irado por Justiça: “FORA, VALE!” “DEMARCAÇÃO, JÁ!” Do Pajé e dos caciques, a Sabedoria que não se esgota: “preferimos virar adubo a arredar o pé daqui”. Exigimos dignidade que é terra, pão, teto, trabalho e vida digna para todos/as. Vamos nos opor (até as últimas consequências) aos senhores de terno e coturno escravocratas que protegem a propriedade privada capitalista e os dividendos das S.A.. Eles podem ter escudo, dinheiro, bomba, jagunço, juízes, prefeitos, deputados, governadores: nós temos nós, nossa reza, dança, nossa tradição. Enquanto tiver som de maracá, terá luta e resistência! Gratidão a todos/as que se irmanam nas lutas justas, legítimas e urgentes. Sigamos a luta, de cabeça erguida com muito amor, parindo a esperança nas lutas concretas, pois uma aurora de Justiça e Paz insiste em surgir. Será em breve!
[1] ORCID: 0000-0003-3886-8633. Egresso do programa de pós-graduação (mestrado) em Teologia da Libertação da Universidade Centroamericana José Simeón Cañas (El Salvador), assessor popular das CEBs e do CEBI-MG. E-mail: deniswilsonsilva@hotmail.com.
Leo Péricles (UP), pré-candidato a Presidência do Brasil, na Retomada Xukuru-Kariri, Brumadinho, MG