Do sopro profundo dos encontros antirracistas facilitados pela Teóloga Maricel Mena-Lópes, trazemos aqui a voz e escrevivência de uma das participantes da Oficina Bíblica-Teológica.
Paz e Bem!
Sou Sulemi Coaxi, mulher negra (afroindígena), divorciada, mãe e avó, educadora, baiana, nascida em Sapeaçu, na região do Recôncavo e nordestina na alma, na luta na fé e na esperança. Sou católica e leiga engajada, com uma espiritualidade fortemente embasada na e pela Palavra de Deus. Trago sempre a Bíblia para as realidades nas quais estou inserida.
Sempre fui impelida a construir meu próprio itinerário na formação e nos estudos bíblicos, bebendo na mística de algumas pastorais em que participei. Mas sentia uma lacuna nesta busca pelo conhecimento da Palavra de Deus. Às vezes, uma busca comunitária, familiar, às vezes solitária, às vezes junto com irmãs e de outras mulheres amigas e companheiras de jornada, mas ao mesmo tempo acompanhada e inspirada pelo Espírito Santo. Por isso, por mais difícil que tenha sido a caminhada, sempre recebi do Espirito Santo um Sopro renovador e restaurador que me fez e faz continuar caminhando. Em certas vezes até cheguei a ser silenciada por conta de algumas posições defendidas.
Geralmente, as formações bíblicas a que tive acesso são ministradas por homens, sacerdotes, brancos. Até mesmo quando ministradas por mulheres, estas eram sempre brancas, o que não desmerece a formação. Uma inquietação me instigava: o fato de não me reconhecer em certas passagens, como mulher e afrodescendente; praticamente não associava, ou não ficava explícita a origem africana na história do povo de Deus. Para mim, era rara ou quase inexistente, a presença de teólogas negras, mesmo porque não se divulgam quem são essas teólogas negras e onde estão. Não ouvíamos a sua voz e não víamos o seu rosto. Mas eu nutria e ainda nutro em mim o desejo de estudar Teologia.
Por conta do atual contexto social, devido à Pandemia, e com as possibilidades de ser Igreja e viver a experiência eclesial em ambientes virtuais, fui nevegando em novos mares até que consegui “cair” na rede do CEBI-BA e, por conseguinte, na “rede” do CEBI-MG, através da Oficina de Leitura Popular da Bíblia, na qual venho MERGULHANDO e me nutrindo cada vez mais. Quando um dos módulos trouxe a temática “O SOPRO ANTIRRACISTA DO ESPÍRITO SANTO”, algo brotou dentro de mim, como que uma fome que desperta o querer saborear o que se oferece. Confesso que tive a grata surpresa de conhecer, ver e ouvir tudo o que a formadora que ministrou o módulo nos apresentou. A Teóloga MARICEL MENA-LÓPEZ, uma mulher negra, colombiana, latino-americana e teóloga, com sua experiência de vida, complexidade de formação acadêmica na área da Teologia Feminista, sua tese de Doutorado (Todo o conjunto que ela representa), me oportunizou sentir-me contemplada na sua fala. Afinal, é uma mulher negra tomando a Palavra, e que apresentou o rosto, o nome, a etnia e a voz de outras mulheres negras sacerdotisas, líderes que estão na Bíblia. Maricel me representa e representa tantas mulheres leigas e negras, pois traz para nós uma nova visão de que temos contribuição na formação do povo de Deus. Nossa história, nossa cor, nosso povo importam! Isso nos dá um respiro e uma renovação da força para continuarmos exercendo o ministério da palavra, com mais propriedade, mais ânimo. Sinto-me mais encorajada para buscar a formação em Teologia e na teologia feminista. Obrigada, Maricel, por sua fé, sua luta, sua vida, sua tese! Vou apresentá-la para as minhas irmãs, amigas e companheiras. Elas também “cairão nesta rede” e todas nós iremos “tomar a Palavra”. Viva o Sopro Antirracista do Espírito Santo!
Sulemi Coaxi
Sapeaçu-BA, 04/09/2021.
Documento PDF em Espanhol. POR_CAUSA_DE_UNA_MUJER_ETIOPE . Teologia Feminista Intercultural.
Divulgação: Equipe de Comunicação do CEBI-MG.
Arte do Cartaz: Mino Cerezo Barredo.