“Não havia lugar para Ele entre nós…” (Lc 2,7)

“Não havia lugar para Ele entre nós…” (Lc 2,7)
9 de abril de 2020 zweiarts

Por Irmã Solange Damião – OP.

Desde o dia 13 de março de 2020, a Pastoral do Povo de Rua Nacional tem corajosamente pensado nas ações concretas para combater o conoravirus-19. Inúmeras reuniões presenciais, via skype, vídeo conferência e whatsapp, foram orientando nossas articulações em todo o território Nacional. Vemos a concretização entre nós, e acreditamos, que os pobres, e, especialmente os pobres presentes na população de rua, merecem nosso cuidado como se cuida do Filho de Deus Jesus Cristo. Aproveitamos também o apelo da Igreja do Brasil que propôs para este ano Campanha da Fraternidade (CF) com o Tema: “Fraternidade e vida: dom e compromisso” e o Lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). Confirmamos nosso engajamento e compromisso com a causa do Reino de Jesus e assumimos o projeto de Jesus. Estamos Vendo, Sentindo e Cuidando dos pobres… Não queremos perder a presença viva de Jesus entre nós manifestada nos pobres, “pois sempre tereis convosco os pobres…” (João 12,8) Então, Ele está aqui! Nossas ações vêm contagiando os vários Estados do Brasil onde membros da Pastoral do Povo de Rua Nacional não têm medido esforços para apelar às prefeituras e entidades que representam o poder público. Pedimos que tenham um olhar diferenciado para esta população sem casa, sem acesso à saúde, à alimentação, à água e a produtos de higiene básica. Não queremos tomar o lugar deles! Queremos lutar ao lado deles por direitos constitucionais a todos brasileiros. São direitos fundamentais e essenciais à vida. Pedimos que lhes assegurem o direito à casa e trabalho, contidos na Constituição Federal de 1988. Nossos esforços nos conduzem à denúncia de todas as instâncias públicas e sociais, porque contrariam as orientações legais em que toda pessoa tem direito a comer, beber e ter assistência à saúde, entre outros direitos. É vergonhoso e injustiça que clama aos céus relatar que nosso povo, que vive em situação de rua, não tem nem água para beber….

O trabalho é árduo, mas já estamos vivendo uma rede de solidariedade inusitada. As pessoas individualmente ou coletivamente tem nos apoiado de toda forma com palavras, trabalhos, ajudas financeiras e outros. Quero também deixar o relato dos moradores em situação de rua, que vivem todo tipo de contradição. São pessoas bonitas/envelhecidas/bondosas/maltratadas/educadas/mal-educadas/reconhecidas/desrespeitadas, amorosas/sem amor, agradecidas/não reconhecidas, incluídas/excluídas. É assim que tenho visitado as ruas de Belo Horizonte, MG: Vendo, Sentido, Cuidando e colhendo tantos:

“Deus lhe pague, muito obrigada…”
“Vocês são bons mesmo…”
“As pessoas estão com medo de nós…”
“Queria te dar um abraço, mas sei que não posso…”

Em nós são provocados sentimentos de alegria e tristeza, de potência e impotência.

Assim, nós estamos todos no mesmo mar em tempestade – uns em iates seguros e luxuosos e a maioria agarrada a um tronco à deriva – e sem saber ao certo o que nos espera amanhã… Continuamos vivendo momentos de eternização e dúvida, pois em alguns raros instantes, pensávamos que era mentira a possibilidade da pandemia do coronavírus. Ele está cada vez mais próximo de nós… Sejamos mulheres e homens de Esperança, de Amor, de Coragem e de Profecia.