AS MULHERES TOMARAM A PALAVRA…
Lendo os Salmos, tão presentes na vida/animação litúrgica das nossas Igrejas, percebemos o quanto é difícil as mulheres tomarem a Palavra para expressar uma espiritualidade do cotidiano, momento deste movimento mais profundo que mantém o desejo de viver, o sentido da existência, a atração e a paixão que, a partir das pelejas do dia a dia, nos convocam a protestar por Vacina no braço, comida no prato, carteira de trabalho assinada com salário digno, por #ForaBolsonaro. Para driblar as traduções ruins, a imagem de Deus tão ligada ao poder violento, opressor-repressor, precisamos dizer nossos próprios salmos, rezando nossa vida, celebrando nossos combates em profecia: Deus é uma mulher preta e nos dá coragem para sermos radicalmente vivos, sem barganhar sobrevivência.
Com os Cantares, o mais belo Cântico dos Cânticos, colocamos na roda nossos amores, prazeres, nossos corpos em relação, os folguedos populares… erotismo! A dança do Eros e o conflito da Sulamita nos ensinaram que nossos corpos não estão só para o trabalho, para a exploração, para a extração de mais-valia, para servir de burro de carga dos patrões, para o consumo capitalista. Não! A gente quer beleza, gozar, dar e receber cuidado, carinho, no Amor que nos desperta, que nos excita, que nos entusiasma, que nos põe de pé para realizar um lindo sonho de outra sociedade, com justiça e igualdade.
Nos Provérbios, vimos o binário fixo-excludente que identifica o ideal da mulher virtuosa/sábia com a mulher calada, silenciosa, reduzida ao espaço/ambiente doméstico e a mulher enganosa/perversa/sedutora com a mulher que ocupa as ruas, que briga por sua vez e voz e faz ecoar seu grito, com a mulher que não tem medo de ser mulher. Cala a boca já morreu! Com batom nos lábios, celebramos nossas bocas e reivindicamos nosso direito – individual e coletivo – de falar, de interpretar, de contar e intervir para mudar, para criar Poder Popular.
Brincamos no terreiro da Senhora Sabedoria com os saberes tradicionais e populares da nossa gente, na lua, canto, olhos brilhantes no horizonte dos Pataxó, Tupinambá, quilombolas… Mãe Meninha do Gantois, Mestra Maria Muniz, Nise da Silveira, Margarida Maria Alves, Ir. Dorothy, Roseli Nunes, Marieta, nossas avós… senhoras sabedorias!!! Com o ventre grávido de luta, com o batuque e samba no colo, com a Jurema n’alma, resgatamos o princípio feminino de Deus como resposta às múltiplas privações, despojos, imaginando/antecipando tantas outras relações possíveis, plurais, diversas.
Por fim, com a mulher de Jó e o povo sofredor: sem-terra, sem-teto, sem emprego, os oprimidos todos, partilhamos que nossa miséria e sofrimento não são casuais nem vontade de um deus que castiga, pune, educa/ensina com a dor, mas causais, têm causa, são produtos da dinâmica socioeconômica, histórico-política que garante os privilégios de uns às custas dos direitos das maiorias trabalhadoras e da terra: latifúndio, agronegócio, mineração predatória, garimpo, agressões imperialistas… Reafirmamos, em liberdade e gratuidade, nossa fé-fidelidade a um Deus-sem-poder que é com a gente, que se faz presente nos esforços para subverter e mudar de direção a história.
Cremos que os simples ganharão. Somos o Vento, trovão, água e clarão… Neste exercício de Leitura Popular da Bíblia, prática pedagógica transgressora, insurgente, aguçamos nossa suspeita. Nancy Cardoso Pereira, mulher que rastreia as raízes das montanhas, as fontes d´água nascente, com sua imensidão e profundeza que inspiram versos, imagens, melodias, nos legou que as perguntas que fazemos valem mais que as respostas provisórias que temos. Encerramos toda esta caminhada na viola bem afinada do Pena Branca e Xavantinho, cantando o Cio da Terra, o Cio da Palavra e questionando teimosamente: por quê?…
Por Denis Wilson. CEBI/MG. (Oficina Bíblica-Teológica, Místico-Política. Módulo III. Ano 2021.)
**Fotos da Oficina Virtual :
Divulgação: Equipe de Comunicação do CEBI-MG.
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