Diálogos sobre Religiões de Matrizes Africanas – Estudo Inter-religioso. 09/06/2021

Diálogos sobre Religiões de Matrizes Africanas – Estudo Inter-religioso. 09/06/2021
9 de junho de 2021 CEBI MG

Os estudos do Volume 2/2014 do CEBI, sobre a Formação do povo de Israel, especificamente no que se refere ao item 2.2 Uma experiência plural, que tem como pano de fundo a formação dos quilombos no Brasil, assim como proposto “nos faz refletir sobre nossa caminhada hoje, quando buscamos cada vez mais a comunhão nas diferenças. Podemos ser diferentes sem sermos contrários”      (p.33).

Nesse sentido, o Grupo Comunhão e Esperança que envolve pessoas de Ipatinga e Coronel Fabriciano, Minas Gerais, promoveu Diálogos sobre Religiões de Matrizes Africana, com o Prof. Dr. Erisvaldo Pereira dos Santos, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas – NEABI-UFOP –, no dia 01/05/2021, das 16 as 18h. Estiveram presentes dezessete pessoas entre convidados (as) e participantes do Grupo Comunhão e Esperança. O propósito principal é ampliar os diálogos com boa vontade, disposição para escutar e suspender os juízos preconceituosos e intolerantes que têm feito parte da nossa formação social e pessoal ao longo da nossa trajetória histórica.

A abertura do encontro realizou-se a partir da leitura do texto da etnopsicóloga e doutora em Psicologia e Antropologia da África Negra da Universidade de São Paulo-USP, Ronilda Ribeiro intitulado – “Pedido de permissão aos mais velhos e aos ancestrais para começar os trabalhos” (1998, p. 56)1:

Eu saúdo os primórdios da Existência.

Saúdo o Criador. Saúdo o sol nascente. Saúdo o sol poente.

Saúdo as três encruzilhadas que unem o mundo visível ao invisível.

Meus antepassados, eu os saúdo.

Meu tempo presente é para fazer saudações.

Antes que eu inicie minha caminhada,

Não deixem de ouvir minhas saudações e me abençoem.

Quando a minhoca saúda a terra,

A terra se abre para que ela entre.

Eu os saúdo. Abram caminho para mim.

Para explicar as características das religiões de Matriz Africana, o professor utilizou um recorte interpretativo a partir de três períodos marcantes na história dessas religiões no Brasil – resistência, reexistência e resiliência -, destacando especificamente, o Candomblé, na qual ele atua como babalorixá no Ilê Axé Ogunfunmilayo, em Contagem/MG.

Em relação à resistência ele destacou os desafios enfrentados pelas religiões de matrizes africanas desde o período colonial, considerando o expansionismo europeu e, junto com ele, os processos de evangelização da Igreja Católica que de diversas formas estigmatizaram e inferiorizaram essas religiões por meio das perseguições e proibições. Como exemplo, destacam-se os batismos compulsórios pelos padres católicos.

Os processos de reexistência iniciam-se a partir do final do século XVIII, em que os principais registros acerca dos diferentes grupos de africanos escravizados no Brasil começam a ser produzidos e acessados. Desta forma, constituem-se os enfrentamentos das negações quanto às culturas afro-brasileiras considerando suas histórias, suas tecnologias, irmandades entre outras ações e práticas. Pode-se dizer que seria uma fase de afirmação. De existir do jeito que se é possível como comunidades de culto e crença, quais sejam o Candomblé e a Umbanda. Em seu livro2, o autor, chama a atenção: “Quando nos referimos à religião dos orixás, estamos abordando o Candomblé Ketu, que tem especificidades linguísticas e ritualísticas. Ainda temos o Candomblé de Angola, que opera com o campo linguístico Banto, e o Candomblé Jeje, que opera com o campo linguístico Fon. As divindades desses Candomblés são cultuadas em regiões da Nigéria, Togo, Angola, Congo e Benin; são conhecidas como orixás, inquices e voduns, respectivamente”. (p.27).

Em linhas gerais, as religiões de matrizes africanas são iniciáticas, reunindo uma série de práticas rituais, mitos, crenças concepções de mundo e códigos simbólicos e sem discurso doutrinário para convencer as pessoas a participarem e acolherem seus fundamentos. Para se iniciarem na maioria dessas religiões, as pessoas têm que ser movimentadas pelas forças espirituais ancestrais que agem nas dimensões pessoal e comunitária, considera Erisvaldo (2015).

A construção da resiliência está em processo. Aliás, as três abordagens se intercruzam e fazem parte do nosso cotidiano. A resiliência, aqui entendida como nossa capacidade de lidar com situações adversas, superar obstáculos e, sobretudo, de construir alternativas de enfrentamento dos mais diversificados problemas, na produção de diálogos com diferentes sujeitos e instituições sociais e acadêmicas acerca do que significam as religiões de matrizes africanas, na identificação e combate das motivações dos preconceitos e intolerâncias, sendo um deles o racismo.

Ademais, reflexões dessa natureza, se associam também ao que o Prof. Erisvaldo considera que as heranças religiosas africanas constituem-se em referências identitárias para os negros e negras, porque expressam conteúdos importantes das razões de viver, representam cuidado e equilíbrio pessoal.

Além disso, em sua apresentação, Erisvaldo explicou sobre a abordagem do sincretismo que significa a absorção de um sistema de crenças por outro com reinterpretação de alguns aspectos. Segundo ele, esse conceito acoberta os processos de resistência presentes nas lutas da população negra e nas religiões Candomblé e Umbanda. A partir dessa abordagem trabalhou também as distintas expressões do Candomblé. Após sua exposição, os participantes tiveram a oportunidade questionar sobre orixás, santos, pecado, discursos dualistas, castigo e perdão entre outros.

O diálogo com o Prof. Dr. Erisvaldo Pereira dos Santos ratificou nossos estudos: “Podemos ser diferentes sem ser contrários”. A força de Deus que se manifesta nas religiões de Matrizes Africanas, também, é libertadora. Assim, os trajetos são distintos, mas o fim é o mesmo. Tal entendimento é confortável, acolhedor e gerador de confiança, esperança e solidariedade com todos que coabitam nossa casa comum, parafraseando nosso querido Papa Francisco.

1 RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. De boca perfumada a ouvidos dóceis e limpos: ancestralidades africanas, tradição oral e cultura brasileira. Itinerários: Araraquara, nº 13, 1998.

2 SANTOS, Erisvaldo Pereira dos. Formação de Professores e religiões de matrizes africanas – um diálogo necessário. 2ª Ed. Belo Horizonte: Nandyala, 2015.

Pelo Grupo de Estudos Bíblicos Comunhão e Esperança do CEBI/VA-MG: Marlene  de Araújo e Cida Gomes.

 

Divulgação: Equipe de Comunicação do CEBI-MG.

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