Mulher Cananeia converte Jesus? Mateus 15,21-28. Por padre Xavier, comboniano
“O Evangelho da Cananeia (Mateus 15,21-28) Dias atrás, um idoso que vive em condições precárias numa cidade do México pediu um prato de comida e recebeu uma “marmita” de arroz com ração de cachorro. Na mesma semana, dois moradores de rua morreram em Itapevi, na grande São Paulo, depois de comerem marmitas doadas por voluntários que continham veneno de rato. Não são exceções. São fatos corriqueiros no mundo inteiro. Milhares de pessoas são tratadas como cachorros e eliminados como ratos. É uma triste história que se repete desde sempre e que se agrava conforme a intensidade do processo de desumanização que aflige a humanidade. No tempo de #Jesus não era diferente. Para o povo de Israel os “outros”, os “diferentes”, os “pagãos”, os “estrangeiros”, os “leprosos”, os “pecadores” e os “miseráveis” eram considerados “cães”. Lázaro vivia mendigando na porta da mansão do #rico esbanjador alimentando-se das migalhas que caiam de sua mesa enquanto os cachorros lambiam suas feridas. Mas uma pessoa ousou encarar os preconceitos e fazer a diferença. Foi uma Cananeia, uma estrangeira, mas #mulher e mãe como qualquer outra, arrebentada pela dor de ver sua filha sofrer por uma grave doença. A dor de mãe é igual em qualquer lugar do mundo. Ela encarou a distância imposta pela “lei”e se aproximou. Quebrou o muro da separação e apresentou sua súplica. Foi atrevida. “Deus” era só para os “íntimos que mereciam”. Sua salvação era considerada um privilégio exclusivo para o povo eleito. Mas ela não desistiu. Gritou ainda mais alto e a dor que brotava com força de suas entranhas maternas “converteu” Jesus arrastando-o para fora dos confins do “povo eleito” e escancarando Seu coração para acolher as dores de qualquer ser humano, independentemente de sua origem, orientação sexual, religião, opção políticas e condição econômica. Por incrível que pareça, a mulher cananeia, a “estrangeira”, anunciou a Jesus o EVANGELHO: o Reino de Deus não pode ser como esse mundo. No coração de Deus não há distinção entre “filhinhos” e cachorros. Ela sabia muito bem disso pelo fato de ser mãe. A Cananeia, a “mulher pagã”, mesmo distante das instituições religiosas e suas doutrinas, estava bem no coração de Deus e conseguiu captar Seu sonho.: a terra é uma casa onde todo mundo deve ser acolhido e se sentir à vontade. Ao centro dessa casa comum só pode ter uma imensa mesa onde toda pessoa, revestida da dignidade de filho e filha, tem direito a ocupar o assento que lhe foi reservado desde sempre. Bom e abençoado dia”. (Padre Xavier Paolillo).